Muito já se disse sobre o filme Tropa de Elite, do diretor José Padilha. Resolvi dar meus palpites também, não porque eu tenha algo novo ou genial a dizer, mas porque o achei um ótimo filme que apresenta muitas percepções a respeito do Brasil que merecem ser pensadas.
Em primeiro lugar, este é o primeiro filme com coragem para mostrar que o tráfico de drogas é financiado predominantemente pela elite brasileira. Inclusive saíram pesquisas recentemente a respeito disso. Do outro lado, algo que pode passar despercebido é o fato de que o traficante sabe que também precisa da elite para sobreviver. Mais do que isso: a impressão que tive é de que os marginais compreendem muito melhor essa relação do que os maconheiros das classes média e alta. No momento em que surge um policial na faculdade, principal reduto do comércio de drogas no filme, a reação imediata do líder do tráfico é apagá-lo.
Segundo: para minha surpresa, o filme foi aplaudido no final da exibição. Comentei isso com amigos que passaram pela mesma situação em cinemas diferentes, mas todos cinemas de shoppings. Quem tem dinheiro pra pagar cinema em shopping é a clase média, alta. Aí se estabelece um paradoxo, talvez: como essa mesma classe média retratada pode aplaudir o filme que está lhe dando um tapa na cara? Ou tem muita gente hipócrita, ou não entenderam nada do filme... Em se tratando de Brasil, as duas hipóteses são altamente viáveis.
Terceiro: o filme, como observou o colega Paulo Seben, não tem nenhuma cena desnecessária para a resolução do conflito central, a troca de comando de uma das equipes do BOPE, no caso a comandada pelo personagem vivido pelo magistral Wagner Moura, o Cap. Nascimento (nome escolhido ao acaso?). É alta tensão narrativa do começo ao fim (pensando aqui com Aristóteles, como observou Seben). Segundo outro colega, Homero Araújo, o Cap. Nascimento é uma espécie de Riobaldo do asfalto, porque pretende acabar com o tráfico e a violência usando as mesmas armas dos bandidos, assim como o protagonista de Grande Sertão: Veredas com relação à jagunçagem.
Compreendo que a sociedade esteja cansada das mancadas do governo federal -- caso Renan, manutenção da CPMF, leite adulterado --, e por isso compreendo que o Cap. Nascimento seja uma espécie de herói que a sociedade deseja, independente da tortura que empregue para impor a ordem. Mas não acho que Tropa de Elite seja um filme para ser aplaudido. Pelo contrário, deveríamos pegar essa empolgação para refletirmos sobre o nosso papel nesse jogo. Porque esperar por um super-herói pode ser mais desgastante do que relaxar e gozar pra esperar pelo avião...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Concordo com a tua visão acerca do filme e acrescentaria, ainda, uma reflexão sobre a imediata reação da Polícia Brasileira no que tange ao combate ao consumo e ao tráfico de drogas.
Nas semanas que se seguiram ao lançamento do longa, diversas reportagens - reproduzidas em horário nobre - mostraram estudantes universitários consumindo maconha e assemelhados em espaços acadêmicos. Ontem mesmo (08/11/2007), divulgou-se o caso de um estudante que vendia drogas em uma Universidade paulista. A associação das drogas ao estudante, foi, portanto, ratificada pela reportagem.
Postar um comentário