sábado, março 31, 2007

[ morram de inveja... ]

Chico Buarque, no show Carioca, Porto Alegre - Teatro do Sesi, 30/03/2007.
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Ainda estou obnubilado, mas vou tentar descrever o que senti durante essa apresentação...

Chico Buarque é um gênio. Com simplicidade, consegue arrebatar multidões. É impressionante que um artista brasileiro seja uma unanimidade há tanto tempo. O público era formado por gente dos 8 aos 80, literalmente. A timidez do protagonista parece reforçar a mística em torno de sua figura. O som estava perfeito, e nem poderia ser diferente (especialmente pela qualidade do Teatro do Sesi, mas também pelo alto valor dos ingressos). É difícil explicar o que aconteceu nessa noite e, provavelmente, em todas as outras apresentações da turnê Carioca.

O dueto com o baterista Wilson das Neves é sensacional. Os clássicos tocados emocionaram a todos, especialmente João e Maria, fechando o show. As músicas do último cd, que deu nome à turnê, são muito bem executadas e belíssimas. Pena que poucas pessoas as conheciam. Até ouvi alguns comentários quase indignados de gente que queria ouvir apenas os clássicos buarqueanos. Ora, um artista precisa se reciclar, compor coisas novas, tocar coisas novas... Imagina se ele ficasse o resto da vida cantando A Banda?! Ia acabar se matando...

Quem acompanha a carreira do Chico, sabe que ele só evoluiu. Há alguns anos, ouvi o jornalista Juremir Machado da Silva dizer que o problema da cultura brasileira era o Chico Buarque. Segundo ele, todas as mulheres adoram o Chico e todo mundo acha que tudo o que Chico faz é bom. Pra tristeza do Juremir, isso tudo é verdade. O problema da cultura brasileira não é o Chico. A sua obra, tanto suas composições musicais quanto sua literatura (prosa ou teatro) , faz com que o nível de exigência de qualquer pessoa fique mais afiado. Superar Chico Buarque é muito difícil, assim como é superar Machado, Guimarães, Graciliano, Drummond, João Cabral, Bandeira ou Tom, Vinicius, Elis, Caetano e Os Mutantes. Chico é um artista consciente da tradição, do passado, mas também da sua contemporaneidade. Por isso tudo, consegue olhar pra trás e perceber como deve fazer pra realizar algo novo, algo que não repita o que já foi feito, algo que procura superar a obra de seus antecessores. Se tivéssemos mais 10 artistas semelhantes ao Chico, a cultura nacional teria uma qualidade muito superior e, certamente, estaríamos entre as culturas mais consumidas do mundo. Chico Buarque não é o problema da cultura nacional. Ele é a solução!

(Como você provavelmente não pôde assistir ao Carioca, porque os ingressos estavam esgotados há mais de um mês, compre o cd com o dvd. E se não leu nenhum dos três romances do Chico, compre-os todos e os leia na ordem de publicação original: Estorvo, Benjamim e Budapeste).

2 comentários:

Tatiana De Camillis disse...

Caríssimo Professor!

Em primeiro lugar, registro que morri mesmo de inveja... tanto pela oportunidade da foto, quanto pelo show.

Em segundo, manifesto minha total concordância sobre a singularidade e genialidade desse "tal" Chico, o qual, como disse o Fischer (pra mim, outro ser genial) no Curso ministrado há algumas semanas, "é realmente o genro dos sonhos de todas as mães".

Em terceiro... parabéns - essa mistura de arte, literatura, música, cinema (consideras estas últimas, é claro, também como arte)... temperada com sensibilidade na escrita, deixa o blog bem bacana. (ih... isso pareceu meio puxa-saco? Espero que não! Considere, por favor, minhas colocações, como se eu tivesse apreendido todas as orientações do "Ideal do Crítico", pode ser?

Ah... e, por fim, espero que eu não continue sendo mal-vista por pertencer, como ouvi dia desses, "àquela gente do data venia" (preconceitos à parte, achei a expressão o máximo).

Com admiração,

Tatiana De Camillis

frizon disse...

Confesso que não sei do que você está falando. Data venia? De qualquer forma, obrigado pelas palavras queridas. Abs!